segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Eu podia escrever...

... a propósito da visita do Papa a Madrid, um texto cheio de fel, vinagre e piri-piri, mas prefiro apresentar as minhas reflexões de forma mais ponderada e imparcial. É certo que bater no Papa é um desporto tão em voga no século XXI como o pontapé no judeu e o arremesso do mouro eram no século XI ( desportos descobertos por Renato Carreira na sua obra História de Portugal - Director's Cut, que recomendo vivamente ); mas tenhamos juízo. A Coroa Espanhola gastou dinheiro público para um evento que trouxe milhares de turistas à capital, turistas esses que tiveram de comer, dormir, lavar os dentes e comprar castanholas. Isso significa dinheiro, euros a pingar. Não tenho absolutamente nada contra manifestações públicas de desagrado, tenho sim, quando se começa a aparvalhar. Ora àlaber:


- Não conheço a lei espanhola, mas calculo que nestas coisas seja semelhante à portuguesa, mas com um leve cheio a paella em vez de coentros. E a Lei Portuguesa concede o direito à indignação ( mal seria se não concedesse, com os governos que têm assolado este país como epidemias ), à liberdade de manifestação e de expressão. O problema é quando, ao manifestarmos a nossa indignação, atiramos garrafas à facção contrária e gritamos impropérios. Aqui já estamos a pisar um terreno lodoso, que é o limite da liberdade. Porque a liberdade não é ilimitada, termina onde começa a liberdade alheia, e não me pareceu que as 5 mil pessoas que fizeram a primeira manifestação e que se cruzaram ( acidentalmente, pela certa ), com o cortejo das Jornadas Mundiais da Juventude fossem lá muito tolerantes. No entanto, eram óptimos no lançamento da garrafa e do pedregulho.


- Devo dizer que faz-me um bocadinho de confusão, nos dias que correm, atentar contra a entidade que mais voluntários e obras de caridade tem pelo mundo inteiro. Pergunto-me quantos dos manifestantes têm os pais ou os avós em lares de misericórdia, quantos filhos em creches das paróquias, quantos têm familiares ou amigos que recebem comida, roupa e material escolar das respectivas dioceses. É um suponhamos.

- Acredito que, no meio daquelas 5 mil pessoas, estivesse muita gente que apenas queria expressar ordeiramente o seu desagrado. O que os espanhóis não sabem mas os portugueses sabem desde mil-nove-e-setenta-e-quatro é que, no meio desta gente pacífica e ordeira, aparecem sempre uns espantalhos que não fazem nada da vida a não ser, como diria airosamente um ex-chefe que tive à uns anitos, coçá-los e cheirá-los.


- Na manifestação da noite, com cerca de uma centena de pessoas, em que a carga policial foi pesada, devo relembrar que gostando do homem ou não, sendo católico ou não, ele é Papa e é Chefe de Estado, e tem todos os meios de segurança que têm os outros chefes de estado. Além disso, não me parece que fose uma manifestação ( ou melhor, um ajuntamento, que eles era pouquitos... ou vá, uma birra... ) muito pacífica. Os polícias podiam já não ter paciência. A teoria de ter sido uma brigada policial ligada à Opus Dei é capaz de ser exagero.

- Já por várias vezes manifestei o meu desagrado por uma geração emergente em Portugal, uma geração que estudo em colégio particulares, nunca usou um par de calças remendado, quando fizeram 18 anos os papás deram-lhes carta e carro, foram para a Universidade, aos 30 anos nunca trabalharam nem fizeram descontos. Mas são de esquerda, gritam por direitos e apelam aos trabalhadores, uma espécie de exército de pequenos Louçãs. E irritam-me, porque a canalha que foi ver o Papa a Espanha é mais útil. Podem nunca ter usado um par de calças remendado, e se calhar também vão ter popó aos 18, mas dão catequese, fazem parte de grutos de voluntariado e acção social, são utéis à sociedade. E a utilidade do ser humano, para mim, é o que o mede, independentemente da cor da pele e cor política, da religião ou da marca de bolachas favorita.


Por fim, lanço aqui a questão: quando Portugal e Espanha entregaram a candidatura para organizarem um Mundial de Futebol, não ouvi protestos de indignação; Portugal apresentou as infraestruturas já feitas, vá lá, se calhar tinham de dar uma demãozita de tinta no estádios. Espanha tinha de fazer obras de reestruturação e alguns estádios de raiz e eu não me lembro de ouvir protestos de indignação quanto à utilização de dinheirinhos públicos... E a questão é: se organizarem um campeonato de futebol, estes manifestantes irão atirar pedras aos turistas que vão à bola? Ou vão vestir a camisola da selecção e o cachecol?


Haja pachorra.

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